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 A Bastilha, figura ao lado, foi
construída em 1370 e tornou-se uma prisão durante o reinado de
Carlos VI; todavia, durante a Regência do Cardeal Richelieu, no
século XVII, tornou-se uma prisão para nobres ou letrados,
opositores à religião oficial, adversários políticos, agitadores
políticos, etc. No dia 14 de julho de 1789 o povo de Paris saiu
às ruas e invadiu a Bastilha, fortaleza que simbolizava o
Absolutismo real, libertando seus 7 prisioneiros remanescentes. Esse
feito ficou conhecido como "A Queda da Bastilha", data comemorada
pelos franceses com sendo a data nacional da França.
Retroagindo, por volta de 1679, durante o reinado de Luís XIV, um
capturado do governo francês foi colocado diretamente sob a
responsabilidade pessoal do Sr. De Saint-Mars, na época,
respondendo pelo cargo de comandante da fortaleza e prisão de
Pignerol, na Savóia.
Não fosse pela tipicidade do caso, por ser de extrema lealdade e
confiança, a guarda velada exigida do Sr. De Saint-Mars, poderia ser
considerada até como um fato até certo ponto usual, em presídios com
tais características.
Porém, consta que o prisioneiro, sem qualquer
registro oficial da prisão, além do nome, também tinha a sua idade
desconhecida, sendo simplesmente, pelos seus companheiros e pelos
carcereiros da prisão, como sendo o "Mascara de Ferro".
Esse era sem duvida alguma, o inusitado, o fora do comum, mesmo
para tais locais, onde figuras impares eram "armazenadas", a
peculariedade desse preso, o requinte de maldade, uma tortura,
aparentemente não tão dolorosa, mais infinitamente incomoda; pois o
rosto do prisioneiro ficava totalmente escondido sob uma espécie de
máscara aveludada, na cor preta, ligada mecanicamente a um
"colarinho"de ferro, cuja engenhosidade do mecanismo,
impossibilitava a sua remoção sem ajuda de alguém.
Embora que o reconhecimento facial do preso fosse praticamente
nulo, os seus movimentos ágeis e maneiras refinadas e
elegantes, conduziam a um raciocínio, mesmo subjetivo, de ser
ainda jovem e da nobreza.
Por questões especificas, fora dos procedimentos rotineiros
aplicados severamente na fortaleza presídio, o "Mascara de Ferro" ,
na maior parte do tempo, era mantido bem longe das vistas dos demais
presos, inclusive, sendo a ala do calabouço, na qual ficava a sua
cela, muito bem guardada, e, para completar a segurança, um contato
restrito com a carceragem, sendo apenas uma pessoa escolhida para
tal serviço.
Todavia, em que pese o zelo extremo na segurança do "Mascara de
Ferro", era tratado por todos com gentileza e respeito,
principalmente pelo Sr.De Saint-Mars, comandante do presídio.
Em 1681, Saint Mars foi transferido para o comando do baluarte de
Exilles, em Turim, que, naquela época, era de propriedade francesa;
o preso também foi transferido e mantido como tal por seis anos, ou
seja, no período completo em que durou a sua gestão.
Transferido em 1687, para o Mediterrâneo, como comandante
da Ilha de Santa Margarida, Saint Mars, mais uma vez o
"Mascara-de-Ferro", ainda sob a sua responsabilidade, foi conduzido
para outra prisão.
O infeliz prisioneiro, encarcerado na masmorra da fortaleza,
tentou em vão, de uma forma desesperada, estabelecer contado com o
que poderíamos chamar de mundo exterior; com os parcos recursos que
dispunha, ora através de fiapos de linho, ora com materiais
residuais, tentava a todo custo revelar a sua identidade, com
mensagens imperceptíveis ou simbologia desconhecida, pelo menos para
os diretamente envolvidos.
Tamanha esforço foi totalmente em vão, não demorando ser
descoberto pela guarda local, causando-lhe assim, mais represálias e
ação redobrada na vigilância, permanecendo preso por aproximadamente
11 anos, quando, em 1698, Saint Mars, retirado do comando da ilha,
para ir dirigir a prisão "A Bastilha", construída em 1370, situada
em Paris, já celebre por ter abrigado os mais diversos e notáveis
personagens.
Como das vezes anteriores, tornando-se um procedimento usual,
recebeu ordens expressas para levar o "Mascara de Ferro" para a
Bastilha.
Foi uma longa viagem, planejada com detalhes cuidadosos,
guarnecidas por uma robusta escolta de soldados para proteger as
duas carruagens utilizadas no translado; uma delas, a primeira,
levando o "Mascara de Ferro" e a segunda, conduzindo o novo
comandante da Bastilha.
Nesse ínterim, aproveitando da grande oportunidade de rever
Plateau, a sua cidade natal, Saint Mars , interrompe por alguns dias
a sua empreitada, hospedando-se na mesma, sendo tratado
pomposamente, com grande satisfação dos seus conterrâneos.
Como não poderia ser diferente, ao ser levado da carruagem para
as instalações destinadas a sua pessoa, o Mascara de Ferro foi alvo
de grande curiosidade dos presentes; se não bastasse isso, todas as
refeições de Saint Mars, foram sempre acompanhadas pelo misterioso
prisioneiro, sendo que, conforme relatos, o cuidadoso militar, tinha
ao seu alcance, devidamente preparadas, duas pistolas sobre a mesa,
para que não duvidassem da seriedade e do zelo no cumprimento do
dever.
Finalmente em setembro de 1698, adentram à Bastilha, o novo
comandante e seu prisioneiro permanente que por algum tempo foi
mantido em cativeiro, numa cela, situada na Torre Basiniere; mais
tarde, conforme registros nas anotações( Jornal) de Du Junca,
carcereiro-chefe, ordenou Saint Mars, a sua transferência para a Ala
Bertandiere.
Conforme procedimentos anteriores, também na Bastilha,
oficialmente, nenhum registro do infeliz prisioneiro foi feito,
permanecendo dessa forma, por mais cinco longos anos; com base ainda
nos escritos de Du Junca , em novembro de 1703, subitamente e
de uma forma totalmente misteriosa, o Mascara de Ferro adoece num
dia e morre no outro, tendo sido enterrado no cemitério de
Saint-Paul, e ai sim, pela primeira vez, seu suposto nome foi
revelado, constando dos registros , como sendo De Marchiel, com 45
anos de idade.
Afinal, quem poderia ter sido o misterioso homem da mascara de
ferro?
Em 1711 a cunhada do rei, a Princesa Palatine,
mencionou a história em uma carta a sua tia. O prisioneiro foi
tratado muito bem, ela disse, mas dois mosqueteiros vigiavam-no o
tempo todo, prontos para matá-lo caso ele tentasse tirar a sua
mascara. Ele odiava a sua mascara, dormia com a mascara, e
provavelmente morreu com a mascara.
Durante os mais de vinte anos que esteve preso, por mais sigilo
que se tenha tomado, inevitável que os rumores fossem espalhados,
por toda a França, no reinado de Luis XIV; histórias fantásticas,
mirabolante até, foram devidamente espalhadas por todo o pais,
participando do processo também, inúmeras personalidades do meio
artístico e cultural da França.
Várias foram as versões que apareceram referente a lenda do homem
da mascara de ferro; dentre as quais, enumeramos as mais
divulgadas:
Era o irmão gêmeo do Rei, tendo sido
excluso, pelo cardeal Richelieu, para poder preservar a
integridade do governo da França; o motivo da colocação de uma
mascara, foi o de proteger a sua verdadeira identidade,
evitando que os cidadãos percebessem a grande semelhança com o
Rei. |
Outra versão dos fatos afirmava que Ana, da
Áustria, mãe de Luis XIV, tinha casado de forma secreta, com
Mazarine, seu ministro, tendo, como resultado da união, um
filho, um irmão consangüíneo de Luis XIV. |
Também, uma colocação muito divulgada sobre
a lenda do Mascara de Ferro , era de que seria o duque de
Mommouth, um pretendente ao trono da Inglaterra. |
Diziam outros, por sua vez, que o
desafortunado prisioneiro era, nada mais nada menos, do que o
ex-ministro da Finanças, Fouquet, que fora destituído e
preso. |
Uma das versões fantásticas e até preferida
era de que o intrigante prisioneiro seria o filho natural do
Rei, com uma das suas amantes (Lavaltiere, Montespan ou
Maintenon). |
Com um pano de fundo com tais características, é até explicável
que várias versões, como as relatadas acima, e outras mais
mirabolantes, fossem divulgadas, sem que pudessem, efetivamente,
estruturadas em provas, serem tidas como verídicas.
O mistério em torno do "Mascara-de-Ferro sempre intrigou os
historiadores. Um dos primeiros homens de letras que criaram
interesse universal em torno do assunto foi Voltaire, quando, em sua
obra: "O Século de Luís XIV", mencionou o caso do enigmático
prisioneiro. Consta que o próprio Voltaire acreditava na versão, de
que o cativo não era outro senão o filho mais velho de Ana da
Áustria. Varias verificações foram tentadas pelos autores de todas
as partes da Europa, porém todos falharam ao estabelecer a
identidade do homem da máscara-de-ferro, basenando-se em algum fato
verídico. E, assim, mais algumas suposições viram juntar-se à
inúmeras já existentes - era o duque de Beaufort, , herói da Fronde;
um filho de Cromwell, o "Protetor da Inglaterra", Avedick, o
patriarca armênio, que havia sido aprisionado, traiçoeiramente, por
ordem de Luís XIV.
Em 1717 (*), o filosofo e escritor Voltaire foi preso na
Bastilha, ficando encarcerado durante 11 meses, como responsável por
um panfleto que não escrevera; aproveita o tempo preso para escrever
a sua primeira tragédia, O edipe ("Édipo"), cujo sucesso, em 1718,
abre-lhe o acesso aos meios intelectuais. Nesse ínterim, Voltaire
contou a um amigo que na prisão relacionou-se com pessoas que tinham
servido ao homem da mascara de ferro. Em seu livro "O Século de Luís
XIV" ( Le Siécle de louis XIV), publicado em 1751, e nas suas
"Questões sobre a Enciclopédia", pela primeira vez com estilo
literário, lançou para a posteridade a lenda.
A versão aparentemente mais confiável, e acreditada na época,
afirmava que o prisioneiro era o conde Mattoli, agente do duque de
Mantua e que havia sido encarregado das negociações para entrega da
cidade de Casale à França, tendo caído no desagrado do rei pelo modo
como conduzira o "affaire". Segundo se afirmou; o rei mandara
prendê-lo secretamente, entregando-o à guarda permanente de Saint
Mars, que era, então, o comandante de Pignerol.
Na destruição da Bastilha, em 1789, com a conseqüente queima da
maior parte de seus arquivos, tornou extremamente difícil a
possibilidade de novas investigações. Apesar disso, em 1872, o Sr.
Jung, oficial de gabinete que tinha acesso a todos os documentos até
então existentes em França, efetuou um extenso e minucioso estudo do
caso, que dera margem a tantas controvérsias.
No seu relatório concluiu:
O prisioneiro, conhecido pela alcunha de "Máscara-de-Ferro", era
um nobre de Lorena, o cavalheiro De Hermoises, acusado de insuflar
uma revolta, conspirando ainda contra a vida de Luis XIV. Jung
relaciona De Hermoises com a notória madame de Brinvilliers, cujas
poções venenosas haviam acabado com a vida de muitas pessoas e que,
sob tortura, confessou a trama que urdiam contra o rei de
França.
A despeito dos esforços reconhecidamente honestos do sr. Jung, as
suas conclusões não foram aceitas pela grande maioria; sendo assim,
o mistério do "Máscara-de-Ferro", através dos séculos, permanece
praticamente insolúvel, perfilando entre os grandes enigmas da
história.
(*) The philosopher and writer Voltaire
was confined to the Bastille in 1717. He spent almost a year there,
and later told a friend that he had spoken to people who had served
the Man in the Iron Mask. In his book The
Age of Louis XIV, published in 1751, Voltaire said that the
prisoner was forced to wear an iron mask as early as 1661, when he
was held captive on the island of Sainte-Marguerite. The prisoner
was young (in 1661), tall and very handsome. He dressed in the
finest lace and linen, and enjoyed playing the guitar.
In his later writings Voltaire dropped
broad hints about the prisoner's possible identity. According to
Voltaire, the man was about 60 when he died, and bore a striking
resemblance to someone very famous. Of course, the most famous face
in France at that time belonged to King Louis XIV, who was also in
his 60s. Another writer, Joseph de Lagrange-Chancel, lived at
Versailles during Louis XIV's reign and was imprisoned on
Sainte-Marguerite in the 1720s. He asserted that Benigne d'Auvergne
de Saint-Mars, the governor of Sainte-Marguerite, treated the masked
man deferentially and called him "my prince."
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